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Sobre um Certo Sedutor

Balzac define elegância como "arte de não fazer nada igual aos demais, parecendo que se faz tudo da mesma maneira que eles", mas até um teorema matemático pode estar pleno de elegância, pela sua exactidão e precisão.

A definição de Balzac associa a elegância a uma certa distinção desapercebida, no nível do comportamental, do agir no mundo de certa maneira. Para o mesmo remete Paul Valéry, quando a identifica como "a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado subtil de se deixar distinguir".

Interessante notar que ambos remetem a elegância para uma certa espécie de arte, ou seja, para algo que, de certa forma, se sobrepõe à natureza, a domina. Esta sobreposição aparece de forma mais evidente na estreiteza do entendimento de elegância como arte do vestir, acto óbvio de sobreposição.

A delimitação diminui nos termos em que Machado de Assis conceptualiza, por exclusão de partes, a elegância, quando diz que "há pessoas elegantes e há pessoas enfeitadas", porque o enfeite aqui não se restringe absolutamente à indumentária, mas também a certo modo de enfeitar as acções com movimentos desmedidos.

Poder-se-á então argumentar que na base da elegância está a medida; e da sua necessidade há relatos antigos, com mais de dois mil anos. É a necessidade de medida, contrária à desmesura, que está presente na famosíssima sentença de Sólon, legislador, poeta e essencialmente sábio grego: "nada em excesso", mêdén ágan no original grego. Pois não é a desmesura alvo dos olhares mais ávidos? Voltando a Valéry, vemos como ele inicia a sua definição de elegância, como arte de "não se fazer notar".

Mas com distinção, isto é, fazendo-se distinguir, o que coloca o problema de outra maneira: como ser distinto sem ser notado? Resolvem esta aparente impossibilidade aqueles que são ditos terem elegância. Mas como o fazem? Bem, pode ao invés perguntar-se assim: poderá alguém ser elegante sem ser sofisticado, ou sem ser gracioso, ou sem ter beleza no movimento, na aparência ou no modo de ser?

Sem querer responder de forma categórica a tal pendência, até porque apetece responder "ora sim, ora não", podemos vê-la pelo lado dos seus efeitos, da elegância. Pois não provoca a elegância, pelo que tem de belo e admirável, um sentimento de atracção? "É pela elegância que somos seduzidos", diz Ovídio desde há dois milénios.

Pois bem, esta sedução pode ser encontrada na música, arte sedutora por natureza; nela pode estar presente a medida, a graça, a beleza do movimento e a elegância no modo de ser, mais do que na aparência. Tudo isto se tem, por exemplo, no Nocturno em Ré Bemol Maior que António Fragoso compôs em 1917, um ano antes de partir para sempre ficar. Ou nas Pensées Extatiques, ou na Petite Suite, ou até mesmo no molto agitato da Sonata em Mi Menor, a que se segue um movimento calmo e cantado com doçura.

António Fragoso aparece assim, essencialmente, se for pensado que a sua música revela o seu íntimo mais seu, como um sedutor. E seduz também pela elegância que depois aparece reflectida, expandida noutros domínios: na sua assinatura, por exemplo, a do panfleto dos noventa anos da sua morte. Porém, talvez não esperando vir a ser notado, foi pelo ouvido, pelo som, pela harmonia que se quis distinguir, seduzindo.



Fonte: J. Galhano

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