Anna, Eleni, Maria, Iliana, Anna, Iona, Kleopatra e Ditsa de Milos. À parte a Maria, os nomes não parecem pertencer a pocaricenses – mulheres, claro está – contudo, algumas delas poderão ter nascido na Pocariça ou cá perto.

Também não surpreenderia que Ditsa e as suas companheiras fossem recém-chegadas à Pocariça, já que vivemos num tempo em que os fenómenos de emigração ocorridos no Portugal dos anos 60 e 70 foram substituídos pela imigração de origem sul-americana e leste-europeia.

Porém, Ditsa e as restantes figuras têm em comum serem filhas dum pocaricense, i.e., haverem nascido da sua mão instruída na arte da pintura; esse artista – não só pintor mas também escultor - nasceu no conturbado final da década de 70.

Ainda que seja jovem, participou já em exposições colectivas em diversos sítios, nos quais se incluem Coimbra, Porto, Lisboa, Vila Verde, S. João da Madeira e Innsbruck; individualmente também tem obra exposta.

No seu sítio virtual apresenta uma síntese do seu percurso profissional, bem como imagens de algumas das suas obras; entre elas, encontrei um conjunto de oito acrílicos sobre platex onde se observam as oito mulheres cujos nomes iniciam esta crónica.

Uma delas, Ditsa de Milos, tem um sorriso de quem tem os filhos criados e uma vida plena de alegria; como o seu nome indica, é de Milos, ilha grega do Mar Egeu e uma das Cíclades da Grécia insular e meridional. As outras são igualmente interessantes.

Noutro grupo de pinturas, o jovem artista apresenta variações sobre o tema do caixote do lixo de rua, aliás, sob a forma de acrílico sobre desperdício, o que me parece remeter para a famosa Lei de Lavoisier: “na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”. Diga-se de passagem que esta lei, conhecida como sendo de Lavoisier, não é da sua autoria mas sim do russo Mikhail Vasilyevich Lomonosov, mas enfim, falemos de arte e não de ciência.

Estas representações intitulam-se Athens (cidade-berço da civilização ocidental), Brindisi (comuna italiana), Auschwitz (um dos locais do Holocausto, no sul da Polónia), Pithion (cidade tão grega quanto Atenas), Budapest (capital da Hungria), Bucharest (capital da Roménia), Cracow (cidade do sul da Polónia), Pompei (comuna italiana da região da Campânia), Istambul (cidade turca que separa a Europa da Ásia), Venice, Amsterdam, Vienna, Prague, Madrid e Berlim.

Esta série de quadros parece demonstrar o quanto o artista é viajado pelo espaço europeu – quiçá nalguma viagem ferroviária de longo curso – mas, em verdade, não seria necessário viajar para as pintar, pois qualquer artista, qual Hamlet, pode estar aprisionado numa casca de noz e ainda assim ser rei dum espaço infinito (Hamlet, II, I, 256-257).

Noutro trabalho, o artista pode ser visto numa acção de auto-duplicação: basta atentar na série de imagens integrantes dum vídeo em que se assiste à representação do próprio artista na tela. O artista representa-se e pode ainda obsevar-se em plena acção criadora (com a visualização do vídeo). Dirão uns que é uma estranha forma de se ver ao espelho, mas a arte, como se sabe, não é senão um espelho da própria natureza (voltamos a Hamlet, III, II, 20-23).

De inspiração warholiana, parece ser a série de acrílicos quadrados sobre tela (de metro e meio de lado), onde estão representados pudins, batatas fritas e outros que tais. A primeira analogia que encontrei foi com a Campbell’s Soup Can que Andy Warhol criou em 1964.

Os óleos sobre mdf, onde surgem formas pouco delineadas e de contornos perdidos de vista, transportando enigmas até ao olhar, também merecem atenção.

E porque a interpretação de qualquer obra de arte assenta sempre na subjectividade do ser pensante, visite o sítio www.joaonora.com e julgue por si, até porque o narrado não é senão um brevíssimo retrato do jovem artista.